Danos na fiação são a principal causa de acidentes elétricos

Danos na fiação são a principal causa de acidentes elétricos

Região Nordeste lidera número de mortes por choques elétricos, mas acidentes com fogo são mais comuns na Região Sul e costumam envolver crianças e idosos.

Por: Bianca Rocha

A falta de manutenção, de conhecimento e de cautela dos brasileiros sobre os riscos causados por equipamentos elétricos cria um cenário perfeito para a ocorrência de acidentes que podem causar incêndios e mortes. No Brasil, os casos aumentam a cada ano. Segundo a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), foram 2.089 incidentes no ano passado, envolvendo choques, incêndios e raios, e 781 mortes no País. Em 2022, houve registro de 1.828 incidentes e 686 mortes.

 

A principal causa dos acidentes fatais não tem sido o choque elétrico em si, mas os incêndios que frequentemente acontecem em virtude do número de equipamentos ligados em uma mesma tomada, em imóveis cuja manutenção não está em dia, causando um efeito dominó. A sobrecarga elétrica gera superaquecimento nos equipamentos e derrete os fios – que, se estiverem próximos a cortinas, tapetes ou sofás, podem causar incêndios. Após a pandemia e com a consolidação do trabalho híbrido, as pessoas passaram a ficar mais em casa, e os casos aumentaram.

 

“Os equipamentos são instalados sem muito critério ou atenção à capacidade elétrica do imóvel. Com o calor intenso, muitos instalam aparelhos de ar-condicionado ou usam os modelos portáteis, que são altamente potentes, sem saber se a fiação elétrica é dimensionada para receber essa carga. A falta de conhecimento leva a riscos que geram acidentes muitas vezes fatais”, relata o engenheiro e diretor executivo da Abracopel, Edson Martinho.

 

Grande parte das mortes por choque elétrico e incêndio acontece na Região Nordeste, mas o maior número de acidentes com fogo ocorre no Sul do País, observa Martinho, que credita o problema à questão comportamental das pessoas. “Os acidentes atingem mais as crianças, que não têm capacidade de tomar decisão com segurança, e os idosos, que geralmente têm mobilidade reduzida”, diz ele.

 

Já na Região Sul, a questão climática é levada em conta. Com períodos extremos de calor e frio, as pessoas acabam usando ar-condicionado e aquecedor, equipamentos que demandam potência da rede elétrica, e ficam ligados por dias a fio, dependendo da época.

 

“Os acidentes se originam da sobrecarga dos equipamentos, uso inadequado de extensões e fios mal dimensionados, que geram curto-circuito. A instalação elétrica de um imóvel deve passar por revisão a cada cinco anos, com profissional capacitado para isso”, sugere Martinho.

 

As estatísticas da Abracopel mostram que os incêndios acontecem normalmente em casas — e os casos mais comuns de choque elétrico envolvem pedreiros, pintores e eletricistas que tocam sem precaução (ou por falta de conhecimento) em fios da rede de distribuição de energia.

 

REFLEXO NOS SEGUROS

Os números da Abracopel reforçam uma tendência observada pelo setor de seguros: o aumento da sinistralidade em coberturas de incêndio de causa elétrica no Brasil. Os números de prêmio e indenizações de seguros que englobam esse tipo de proteção refletem isso.

 

Segundo a FenSeg, o ramo Empresarial arrecadou, em fevereiro de 2024, R$ 309 milhões, crescimento de 9,5% em relação ao mesmo mês de 2023. Em indenizações, foram pagos R$ 169 milhões no período. Já o Residencial arrecadou R$ 476 milhões, aumento de 28,3%, e sinistralidade de R$ 147 milhões. No de Condomínio, foram R$ 56 milhões arrecadados, expansão de 31%, e indenizações pagas no valor de R$ 37 milhões.

 

“As coberturas mais demandadas entre 2022 e 2023 foram para incêndios, danos elétricos e vendavais. Há um aumento na procura por seguros residenciais também, em geral impulsionadas por problemas observados no vizinho ou com pessoas próximas. O aumento da incidência gera uma preocupação maior entre as famílias”, afirma Magda Truvilhano, vice-presidente da Comissão de Patrimoniais Massificados da FenSeg.

 

De fato, o brasileiro está contratando mais os seguros residenciais. A conclusão é de levantamento feito pela FenSeg, que apontou aumento de 25% no Índice de Penetração (IP) deste seguro entre 2017 e 2021. A participação, que era de 13,6% no primeiro ano da série, pulou para 17% no último ano, o que representa 12,7 milhões de residências seguradas em todo o País. O número ainda é baixo, mas tende a crescer continuamente em virtude das alterações climáticas, ressalta Magda.

 

A liderança na contratação dos seguros entre os estados fica com o Rio Grande do Sul, com 38,6%, à frente de São Paulo (29%), Santa Catarina (27,1%), Paraná (22,7%) e Distrito Federal (21,8%). “A Região Sul lidera por causa da conscientização maior da população. Isso é resultado do fato de a região ser mais atingida por eventos naturais, mas é importante frisar que as mudanças climáticas têm atingido o País todo”, comenta Magda.